Carlos Américo Neri Serra
Nasceu em Fortaleza em 21 de novembro de
1964, em meio ao golpe militar. Seu pai, médico fisiologista e militante de
esquerda, estava preso no exército do Ceará. É o oitavo de nove irmãos. Viveu
no Ceará até os 04 anos de idade, quando a família teve que se exilar, indo
para Mogi das Cruzes, São Paulo, em 1969. A mãe era dona de casa e poetisa.
Embora tenha saído do Ceará aos 04 anos
de idade, o berço de sua infância foi Fortaleza, a cidade que moldou a sua vida,
o seu jeito de ser. Aprendeu a ler e escrever aos 03 anos de idade. Entrou na
escola aos cinco anos, em Mogi das Cruzes, nesse período já havia definido dois
caminhos para a sua vida, ou ia ser artista ou físico nuclear. Estudou para as
duas coisas. Já fazia poesia por influência de sua mãe. O avô paterno Lourival
Serra, era músico, clarinetista e saxofonista de orquestra. Dos nove irmãos,
foi o único que herdou a arte - música, dança, teatro, literatura. Aos seis,
sete anos já cantava na escola, o sonho era tocar piano. Mas o pai nunca
permitiu que o filho fosse artista, achava que a arte não dava futuro pra
ninguém.
Desde a infância no Ceará vivia envolto
em arte. Aos oito anos, em Mogi das Cruzes, já fazia teatro na escola. A marca
de Carlos Neri é a busca pelo conhecimento, aprofundava seus estudos em arte e
física. Para ele, tudo é calculo, inclusive a arte, o desenho tem uma simetria,
tem ângulo, perspectiva, tudo tem cálculo matemático. Também desenha e pinta. Seu
primeiro grupo de teatro foi o da Escola Estadual Presidente Vargas, onde
participou das peças, o Barquinho de Papel, de Maria Clara Machado e Tistu – O
menino do Dedo Verde, baseado no livro de Maurice Druon. Aos 13 anos foi para o
grupo TEM - Teatro Experimental Mogiano, onde participou do espetáculo O Auto
da Compadecida, que ficou um ano em cartaz.
Nas aulas de educação musical, compunha,
tocava flauta e usava a música para criar coreografia. Nos tempos da discoteca,
se envolve com a dança, nas discotecas de Mogi das Cruzes. Recebe convites para
as Academia Regina de Balé e Academia Tânia Macário, onde começa a dançar balé
clássico. Dança balé clássico até os 19 anos, quando sofre um acidente e para
de dançar.
Todas as escolas onde estudou tinham espaços
para a arte, tinham bons teatros. Da quinta a sétima série vai para a Escola Industrial
do Senai de Mogi das Cruzes, onde aprendeu marcenaria, elétrica, hidráulica,
solda, desenho técnico arquitetônico e a esculpir em madeira. A escola também
tinha um teatro, com caixa cênica perfeita, iluminação, áudio e mesa de som.
Ainda no Estado de São Paulo, foi modelo
dos 13 aos 20 anos. Aos 18 fundou uma companhia de dança Corpo de Baile Novo
Independente, onde aliava dança e teatro, produzia operetas. Nesse grupo também
escrevia as histórias, montava texto e cenário. Com o Corpo de Baile
Independente trouxe um grupo de dança de rua da periferia de Mogi para o centro
da cidade, para compor o Corpo de Baile, juntando as operetas de balé,
clássico, jazz e afro com a dança de rua.
Aos 22 anos foi para o grupo Grumont, também
em Mogi das Cruzes, onde passou dois anos com o espetáculo O Divã, onde fez
atuação, adaptação e direção. Circulou com o espetáculo pelos estados do
Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Fez diversos cursos e oficinas de
teatro. Estudou com Gianfrancesco Guarnieri, Paulo Goulart e Emilio Fontana,
além de participar de festivais de teatro.
Mas quando não conseguiu, por questões
familiares, ir para a universidade fazer o curso de física nuclear, decidiu
pela arte e foi para São Paulo, capital, trabalhar com teatro. Depois volta
para o Ceará em 1986, para participar de um projeto, que comemorava o
cinqüentenário da morte de Frederico Garcia Lorca. Foi criado, em Fortaleza, o
grupo de teatro A Cigania Luzidia que se apresentava nas praças de Fortaleza,
adaptações de Bodas de Sangue, até chegar à Praça José de Alencar, ao Teatro José
de Alencar, onde foi apresentado o espetáculo no palco. Nesse grupo participou
como ator, cenógrafo e coreógrafo e nesse período voltou a dançar, estudou
sapateado hispânico e dança flamenca, no grupo de tradições cearenses.
Participou também de um grupo de dança contemporânea, fazendo intervenções na
rua.
Também em Fortaleza cantava MPB, nos
bares à noite. Tinha uma banda cover de Legião Urbana e continuava atuando,
fazendo publicidade, direção de comerciais para televisão, no varejo e
institucionais, na agência Terraço. Através dessa agência prestou serviço em
vários estados brasileiros. Também era membro do sindicato dos artesãos do
Ceará, produzia em xilogravura e barro, e fazia pequenas esculturas representando
o cotidiano de famílias nordestinas, especialmente o retirante.
Em 1987 participa também do projeto Rodo
Teatro Mambembe, de Brasília. O teatro, em um carro Kombi, percorreu 186
cidades do Oiapoque ao Chuí.
Volta para Fortaleza, em 1989, estuda teatro
na Universidade Federal do Ceará e se forma em artes cênicas. Fica no Ceará até
1992. Nesse período intercala trabalhos por todo o Brasil, tendo seu ponto de
apoio, Fortaleza. Em 1990, faz no Rio de Janeiro, O Belo Indiferente, de Jean
Cocteau.
Em 1993 muda-se para o Tocantins, levando
consigo apenas seu portfólio e algumas gravuras. De início não se envolveu com
arte, mas com política. Foi líder da juventude tucana no estado. Entre 1994 e
1995 envolve-se com produção cultural, quando vai trabalhar na prefeitura de
Palmas, na gestão de Eduardo Siqueira Campos. Trabalhou com palhaçaria, teatro
de rua, participou do projeto viver, junto com o Palhaço Tintin, um dos
pioneiros de Palmas e Erdilês Paiva, ator e carnavalesco, fazia show, peças,
gague de circo, palhaçaria e esquete circense. Fez também um vernissage, em
1994 em Palmas, onde juntou música, pintura e teatro, usando a técnica do
pontilhismo.
Em 1996, por questões políticas, deixa o
Tocantins, retorna para o Ceará e depois para São Paulo, de onde vai para
diversos estados como Pernambuco, Rio de Janeiro, Bahia e Paraná. Em 2000,
volta para Mogi das Cruzes, onde trabalha com campanhas políticas e na
prefeitura de Mogi das Cruzes, desenvolvendo trabalho, como prestador de
serviço, nas secretarias de cultura, turismo e agricultura. Trabalhou nessas
três áreas ao mesmo tempo.
Na secretaria da cultura foi responsável
pela realização de festivais de arte. De 2005 a 2007 montou onze festivais de
nível nacional realizados anualmente, abarcando todas as linguagens artísticas.
Paralelo ao trabalho com os festivais desenvolveu dezenove monólogos para
experimentar linguagens corporal, da fala, da técnica do gramelô. Nesse período
construiu personagens que ainda hoje o acompanham – o clown, o palhaço. Estudou
profundamente o palhaço, o clown, a diferença entre estes, o tradicional e o
clown moderno, o palhaço moderno mais sofisticado.
Neri era exímio conhecedor da região da
serra do mar, conhecia todo o potencial turístico que a região podia oferecer,
nesse período fez o mapeamento turístico do município. Adora mato, é trilheiro,
guia mateiro, quando não estava no palco estava no meio do mato, fazendo
trilha, ajudando os ribeirinhos, os camponeses.
Na área da agricultura participou do
Programa Nacional de Meio Ambiente PNMA II para a recomposição de mata ciliar
da serra do mar e alto Tietê cabeceiras.
Em 2008, retornou novamente para o
Tocantins, com o intuito de fazer circo. Veio focado nessa idéia. Para ele o
circo aglutina todos os segmentos da arte, dentro da lona se excuta todas as
artes. Tem música, dança, interpretação, artes plásticas e artes visuais. Para
ele lugar melhor não há para desenvolver todas as suas habilidades e aptidões
dentro da arte, essa viagem lúdica da criança. O que mais pega é o palhaço, que
nada mais é do que uma criança brincando no seu universo. O circo, segundo ele,
aglutina todas as coisas que já produziu, que teve a oportunidade de aprender,
no decorrer dos seus quarenta anos de estrada.
Em julho de 2008, funda a Companhia
Aleatorium Circus e passa a fazer trabalhos para o estado e a iniciativa
privada. Atualmente tem uma lona de circo em parceria com uma família
tradicional de circo, que vive no Tocantins, em Porto Nacional. Luta para que a
legislação relativa ao trabalho dos artistas circenses seja cumprida, que esses
artistas sejam reconhecidos como profissionais da arte, que tenham sua
aposentadoria pelo INSS, o seu direito ao voto garantido, porque embora
itinerante, o artista circense tem a sua casa, que é o circo, a sua residência
fixa, o circo é que se desloca, realizando uma de suas magias que é levar
entretenimento e arte para quem não tem condição de ir a uma grande casa de
espetáculo.
Neri se auto intitula andarilho, para
ele, teatro de rua tem tudo a vê com circo porque é uma coisa alegre, cigana
também, coisa de andarilho. Gosta de teatro de rua, porque lhe permite estar
perto do público, interagir com o povo, numa empatia gratuita onde as pessoas
estão ali de forma espontânea. A arte, para ele, lhe permite despachar os
problemas, porque a arte lhe ambienta em um espaço que ele conhece. Preocupa-se
com o aqui e o agora, o aqui e agora desse ambiente, o amanhã não lhe
interessa. Para ele o mais importante na vida é o conhecimento e é isso que
procura passar para seus alunos nos cursos e oficinas de arte que ministra, para
ele, sem conhecimento o ser não evolui, não se liberta. Neri sempre buscou o
conhecimento de forma global, entender das diversas áreas. No Tocantins começou
também a fazer o curso de Tecnologia da Informação na Universidade do Tocantins,
abandou o curso em função de suas inúmeras viagens. Buscava na tecnologia da
informação conhecimento para ajudar na sua arte circense, na construção de
máquinas que quer construir para facilitar a sua vida como artista. A busca do
conhecimento é o que lhe define.
Carlos Neri é também membro titular do
Conselho Municipal de Políticas Culturais de Palmas, na câmara setorial do
Circo.